Quando ela entrou no ônibus, fitou rapidamente, após a catraca e o cobrador, vários lugares vagos, num coletivo noturno, o vulgarmente chamado de “navio negreiro”, e que tinha somente dois ou três gatos pingados como passageiros, com cara de derrotados pelo dia cansativo, vindos ou indo sei lá de onde ou para onde, viajantes que nem imaginavam que seriam testemunhas do ataque de uma fera primitiva a uma dispersa presa frágil.
Em um dos cantos da última fileira de bancos, que ficavam no fundo, havia um rapaz sentado, com fones nos ouvidos, observando distraído o que passava pela janela. Ela pagou, passou pela roleta olhando-o, e ele não a percebeu. Ela seguiu em sua direção e sentou-se ao seu lado, perna com perna, segurando no apoio do encosto do banco da frente. O rapaz olhou-a de soslaio e voltou sua atenção para a paisagem escura lá fora. Ela nunca havia sentido tamanho ardor antes. De repente começou a pensar incisivamente na situação em que se encontrava: ela e um total desconhecido, sentados à beira da madrugada no fundo de um ônibus quase que vazio; sua imaginação foi tão violenta com a carne que ela ficou inteiramente excitada. Os bicos dos seios enrijeceram repentinamente ao mesmo tempo em que suas pernas se juntaram ao sentir o calor que se formou em seu meio, deixando-a arrepiada e molhada de desejo. Discretamente passava a mão do lado de dentro da sua coxa, que ficou exposta, pois ao sentar-se, a saia azul-marinho de seu uniforme subiu e ela não a puxou de volta. Sua vontade era de massagear-se ali mesmo ao lodo do distraído rapaz. O que ela queria mesmo era gozar com um estranho, aquele momento voluptuoso e faria o que fosse possível para que isso acontecesse, pois mais nada importava ali, além de seu deleite arrebatador e solitário.
A rotina de trabalho é de deixar qualquer um maluco e castrado, a vida sem muita graça, cheia de mesmices, dias pálidos e ela já não suportava as repetições cotidianas, o que refletia diretamente no seu prazer, pois já não o sentia mais no sexo feito de maneira convencional, que na sua concepção os pragmatismos dos relacionamentos humanos haviam deixado insosso. Marcar para sair, se arrumar, ir até um bar, se preocupar em dizer a coisa certa... Todo esse ritual não lhe dizia mais nada, era totalmente manjado e mecânico, um jogo marcado em que todos no final sempre perdem. Queria algo diferente, queria deixar seu lado animal, que estava aprisionado em algum lugar de seu interior, vir à tona, rebelar-se. Queria agarrar o cara que lhe desse tesão só de olhar, e trepar com o indivíduo na hora. Nada de conquista, de papo furado, nada de flores, bombons, nem vinhos nem perfumes nem nada, isso já não lhe fazia mais a cabeça, não precisava mais dos machos para lhe fazer agrados materiais e nem mimos infantis às orelhas, queria mesmo era deixar o extinto sexual soturno emergir e domina-la. Assim como fazem os cachorros, se cheiram, trepam a luz do dia no meio da rua e foda-se! Qualquer coisa além disso passou a considerar pura perda de tempo. Faria agora como nos tempos das cavernas, só que ao contrário porque ela seria a predadora e a vítima escolhida estava cercada, logo ali ao seu lado.
Com a respiração alterada, ela encarou o sujeito, que já havia percebido seus movimentos não tão comuns para o ambiente. O cara voltou sua atenção para frente, tirou os fones, deu uma pausa para criar coragem, olhou-a e a cumprimentou. Recebeu de volta um sorriso largo junto com um olhar brilhoso e malicioso. Ele falou com ela novamente e em resposta recebeu um súbito beijo na boca que o surpreendeu de tal maneira que a injeção de adrenalina que seu corpo recebeu arrepiou seus pelos, e sem pensar muito respondeu a atitude da moça roçando sua língua na dela. As mãos bobas começaram a circular firmes pelos divertidos e prazerosos caminhos erógenos, até que ele a tocou, sentiu todo o calor e umidade que uma mulher em êxtase pode produzir. Ela tocava-o por cima da calça, esfregava, apertava e sem demora abriu sua braguilha, enfiou a mão por dentro botando-o enrijecido para fora. Passou a masturbá-lo, queria deixá-lo completamente duro, petrificado, e rápido conseguiu. Quando ela viu o membro erguido, sua boca encheu de água e não resistindo à vontade de devorá-lo, curvou-se e começou a sugá-lo sentindo-o quente em seus lábios, ficando cada vez mais molhada e cada vez mais que ficava molhada ela sugava mais ainda. Ela sentia-se dominadora da situação quando deslizava a língua na cabeça do pau e ouvia baixinho o gemido contido do rapaz, que por extinto agarrava seus cabelos e conduzia os movimentos orais. Enquanto uma mão ela segurava e sugava sua presa, com a outra alternava esfregões frenéticos no clitóris e o vai-e-vem de enfiadas dos dedos a procura de pontos que lhe deixassem cada vez mais inebriada. Ela recebia e proporcionava prazer, seus olhos reviravam num delírio egoísta onde a satisfação dele era secundária. Ela chupava-o porque gostava... Mordiscava-o porque gostava... Babava-o todo, sentia-se a fêmea devoradora.
Explodindo de excitação o rapaz empurrava a cabeça dela para baixo e ela engolia-o todo. Quando voltava a cabeça para cima, puxando pelos cabelos, recebia a pressão das sugadas ainda mais fortes, com linguadas atordoantes. Foi assim até ele não aguentar mais e jorrar quente na boca dela, que continuou sugando... Até engolir todo o leitoso liquido. Ofegante ela ergueu a cabeça e levou a mão, toda empapada, que estava em seu meio, até o nariz, farejando seus fluídos e chupou-os, sentindo seu gosto, todo seu mel e poder.
Após a caça finalizada, ela recompôs-se no assento, assim como o rapaz que de olhos vidrados, não acreditava no que havia acabado de acontecer. Os outros passageiros davam olhadas rápidas para trás na tentativa de entenderem, meio que sem acreditarem, no que os dois estavam fazendo. O cobrador nem se deu conta da cena, estava de lado em seu acento se entretendo com um radinho ao ouvido. O rapaz tentou puxar assunto, perguntou o seu nome, número de telefone, coisas de praxe, mas ela não respondia, só olhava longe e sorria comportada com semblante de satisfação. Alguns pontos mais à frente a amansada fera felina desceu, sem trocar uma palavra com o rapaz, que sem entender nada seguiu no ônibus.
Quando ela chegou à sua casa, foi para o quarto, jogou a bolsa e outros objetos sobre a cama, despiu-se e entrou no banheiro para banhar-se. Lembrando-se do acontecido, masturbou-se apertando os seios e mordendo os lábios, relaxando debaixo da ducha quente. Após o banho, fez uma leve refeição e foi deitar-se. Com o corpo brando repousado, sentiu-se suave, como um bicho que acabara de devorar sua presa e saciar a sede por alimento. Virou-se de lado, apagou a luz do abajur e dormiu em paz, sabendo que de amanhã em diante todo dia é um dia novo e que tudo nele pode ser feito de outra forma, sem cerimônias.