Com toques íntimos e
Beijos em lugares
Hediondos
Enganamos os anjos
Mudamos os valores
E estupramos a Moral
No tribunal dos puros
Pela (in)justiça dos olhares
Fomos condenados
A prisão
Perpétua
Algemados
Pagaremos à pena
Trancafiados
Gozando
Nosso mundo
Puxo pela crina
A égua relincha tremula
Em seu lombo
Dito o ritmo
Frenético libido
Pelas horas cavalgamos...
Assim ela
Faz
Eu cavaleiro
Minha boca
Pede
Pelo
Sweet Martini
Que há
Entre elas
Abra as
Pernas
Apenas
E sem penas
Entre panos
Profanos
Vamos pecar
Com o prazer
Morto
Velado choramos
Abraçados
Pelo leite
Derramado
Eu, plebeu pagão
Fiz ceia farta
No seio farto
E profano
Da virgem
Nesse anjo a
Auréola
É rosada
Dura e
Macia
Na minha língua
Sobra o sal
Do suor
Da santa
Só
Sinto-me
Protegido
No colo
Do útero
Divino
Maçã mordida
Pelo desejo
De Branca
Minha neve espirra
Branca
Sobre a pele
Branca
De Branca
Agora, de neve
Nosso pecado
Alvo
Se completa
Nas maçãs de Branca
Cheias de minha neve
Quente
Tadinho do pintinho
Vinha ciscando o chãozinho
Arrastando os pezinhos
Bicando as migalhinhas
Distraído, caiu num buraquinho
Escuro e apertadinho
Botava a cabeça para fora
Escorregava para o fundo
Botava a cabeça para fora
Escorregava denovo
Botava a cabeça para fora
Escorregava...
Assim, ficou suado
O que o favoreceu
Pois o barro amoleceu
Ele saiu (todo melado)
Cansado
Caiu de lado
Descansou deitado
Depois, renovado
Pensou “foi bom esse buraco
Me deixou forte, animado!”
E ele agradece o que aconteceu
Porque depois dessa experiência
Com imponência
O pinto cresceu!
Na sexta da paixão
Lembro de quantas sextas
Apaixonadas passei
Só
Quantas sextas
De paixão falsa
Me trai por tão pouco
E passei ao lado de outro cristo
Quantas sextas só
Dormi crucificado na cama
Esperando o escuro do sábado
Para tentar uma mísera aleluia
Eu, Judas malhado no poste
Pela multidão arquetípica
Com trinta moedas faço aleluia
Pão, vinho e putas (santa ceia no seio profano)
Sou só mais um
Santo do pau oco (e duro)
Tentando uma paixão
De quinta, na sexta
Entre...
Agarre firme
Chacoalhe, chacoalhe, chacoalhe
Roçando
Corpo com corpo
Parte com parte
Aperta...
Corre o suor...
Nosso cheiro sobe
Enquanto somos olhados pela janela
Assim é
Nossa viagem
Sônia Braga - A Dama do Lotação - 1978
Criança atrevida
Brinca com a minha boca
Que ri vermelha
Sussurra
Sobe pelas minhas paredes
Toca-me lá
Certeiro
Alvo alvo e róseo
No sobe e desce
Do nosso carrossel
A música do corpo
Tinge os olhos de brilho
Gira, gira sem parar
Até o fim do nosso infinito
O grito sai
No íngreme
De nossa montanha russa
O coração bate alegre
Como a banda do circo
Sob a lona
O picadeiro é só nosso
Ajoelhe-se e me amarre
Lace o laço lasso, firme
Nós
Borboletas monocromáticas
Me arraste
Com a língua de fora
Me deforme
Pise-me, pise-me, pise-me
Me use até o fim
Submisso sou
Podolatra obsessivo
Protejo-te
Abraço-te
Por onde for eu vou
Para sempre
De sola nessa paixão
Me agarro aos seus pés
Justo
Saliva noturna
Oportuna
Tropeira lã negra
Alaga a galope
Só lido sólido
Égua brava, acalma a tapa
Crina crua crema o creme
Mata-me agora, por favor...
O corpo discente não achando decente
Para o ambiente o vestido ardente
Da adolescente atraente
Agiu bruscamente e brutalmente
Deixando a situação inconveniente
Incontrolável, caos aparente.
Antes que alguém a violente
Solicitaram a polícia: “por favor se apresente”
A diligência chegou rapidamente
Levando-a dali velozmente
“vamos sair, antes que alguém lhe arrebente.”
O corpo docente analisando o incidente
Achou melhor ser condescendente
Com a massa acrania e valente
Expulsando a menina apressadamente
Dizendo: “se vestes vulgarmente,
A culpa agora, você que agüente”
A Sra. imprensa, que não discute candidamente
E trata um assunto importante vãmente
Também tem culpa no ocorrente
Difundindo a notícia inadequadamente.
Nós da Universidade, apesar do antecedente
Somos um exemplo, falando moralmente
De instituição, e orgulhosamente
Tomamos a decisão, cuidadosamente
De expulsa-la, por se trajar visivelmente
Fora dos padrões, e estamos crentes
Que foi justa e tomada sabiamente
Porque buscamos um ensino, religiosamente
Correto, e agimos disciplinadamente
E temos que ser sempre complacentes
Pois quem tem que educar tanta gente
Sabe que a razão sempre será do cliente.
A única coisa que não tem fronteiras é a hipocrisia.